Jesus e os crucificados de hoje 3e3t60
Por Gisela Breno
15 de abril de 2025, às 09h08 • Última atualização em 15 de abril de 2025, às 09h13
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Jesus foi assassinado pelo Império por amar demais. Foi martirizado por perdoar sem limites, por se sentar à mesa com aqueles que o mundo rejeitava.
Sua existência era uma ameaça ao poder, à ordem, ao sistema.
Mas a tragédia não cessou no Gólgota.
Em uma sociedade marcada pelo egoísmo, pela ânsia do ter e pela indiferença diante dos marginalizados, Jesus continua sendo pregado na cruz.
Porque Ele faz morada nos corpos negros que jazem nas periferias, alvejados por balas que nunca erram o alvo; nos povos indígenas expulsos de suas terras; nos refugiados que vagam sem pátria; nos trabalhadores invisíveis que sustentam o mundo e são esquecidos; nas crianças privadas de alimento e educação; nos jovens sem horizonte; nas mulheres silenciadas, nos idosos abandonados, nas pessoas em situação de rua, Sua crucificação continua.
Seu sangue hoje se une ao de cada um deles e escorre pelas cruzes do nosso tempo – agora feitas não de madeira, mas de indiferença. Os pregos não são de metal, mas se materializam na fome, no racismo, na desigualdade, no preconceito e no descaso.
A Semana Santa não é, portanto, uma lembrança do ado, mas um chamado urgente para que deixemos de atuar nos palcos da indiferença, para que rasguemos os véus da apatia, para que denunciemos, com coragem, as injustiças que atravessam séculos.
Urge quebrar esse silêncio milenar e reconhecer, nos crucificados de hoje, o rosto do Cristo vivo.
Pois, enquanto houver até mesmo um só deles, a ressurreição ecoará como um grito engasgado na garganta da história, e nós continuaremos cúmplices de cada crucificação, que se repete dia e noite diante de nós.
Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.