Jessyr Bianco 1c6o5q
Por Gisela Breno
18 de fevereiro de 2025, às 14h05
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Ele, meu pai e meu tio Dica, foram essencialmente as fontes, cujas águas límpidas nutriram meu caráter e minha personalidade.
Ainda criança, juntava-me à minha mãe, irmãs, tias e primos para ouvir suas histórias recheadas de fino humor e alimentar-me de sua cultura e inteligência ímpares.
Sensível às dificuldades alheias, numa época em que meu saudoso e amado pai perdeu sua tecelagem e em consequência a saúde física e mental, me pediu para ser, com18 anos e sem experiência alguma, sua secretária.
Meu momento de orgulho e glória, em seu escritório de advocacia, era dizer ao telefone ” pois não tio”, de forma que, na sala de espera, sempre lotada, todos soubessem que eu era sobrinha do respeitável Dr. Jessyr Bianco.
Sei como educadora e agora biógrafa, que o pequenino Jessyr, vindo da minúscula Corumbataí, franzino e pobre foi alvo de inúmeras zombarias, humilhações hoje denominadas de bullying.
Servia de “modelo” nas aulas de Anatomia. A professora pedia para que ele tirasse a camisa e se postasse junto à lousa; com uma régua grande de madeira, ia apontando para as partes de seu corpo, cuja magreza era ideal para ilustrar a constituição do esqueleto humano.
Certamente vó Carmela, sempre com seu terço na mão e na alma, zelando pela sua numerosa família, não teve a compreensão de que seu menininho mais velho sofria chacotas.
Sem a atenção de coordenadores e orientadores educacionais, funções mais modernas, Jessyr se curvou, tocou o chão e feito chorão (a bela árvore que se dobra e não se quebra) imerso em tantas dificuldades, se fortaleceu.
Meu vô Luiz não foi um marido, nem pai exemplar. Muitas vezes, por conta dos excessos no álcool, ameaçava verbal e duramente minha santa vó na presença dos filhos. Ao invés de revoltar-se com essas atitudes, tio Jessyr além de não permitir que se maculasse a imagem do pai, transmutou esta amarga experiência em rios caudalosos de ternura não somente para sua doce Joyce, Luizinho, Cristina, Luciana, Juliana, netos e bisnetos, mas para todos aqueles que tiveram o privilégio de sua convivência.
Não cursou o “ginásio” nem o ensino secundário em escolas de excelência como muitos dos meus alunos. Tampouco teve o à lousa digital, iPhone, iPad ChatGPT, e outras inovações tecnológicas.
Com recursos escassos, mas portador de uma sede férrea de conhecimento, de cultura, ao longo de sua árdua caminhada acadêmica, não somente foi um aluno brilhante, mas soube transformar as informações em conhecimentos e, o fundamental na vida, os conhecimentos em sabedoria.
Construiu uma carreira notável como advogado, jornalista, político e poeta.
Sua Vida e Legado, como está na apresentação do livro, que tive a honra e o privilégio de escrever, poderia ser uma coleção composta por vários exemplares, tamanha foi a sua atuação em vários segmentos da nossa sociedade.
Hoje Jessyr Bianco completaria cem anos. Infelizmente não está mais entre nós, mas a sua vida em qualquer aspecto de sua existência, é e continuará sendo inspiração para todos que o trilham o caminho da justiça, da verdade, da humildade, da honradez e da luta pelo bem comum.
Viva Jessyr Bianco!
Professora, Gisela Breno é graduada em Biologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e fez mestrado em Educação no Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo). A professora lecionou por pelo menos 30 anos.